CIRURGIA DE COLOSTOMIA
Neste post, vamos deixar de lado minha perna um pouquinho e vamos conhecer uma outra
parte da minha história.
Como eu já tinha contado no inicio da história, eu
usava uma colostomia desde que aconteceu o acidente e depois de ter ficado com
ela por mais de três anos, enfim, fiz a cirurgia de remoção.
Depois que eu fiz a cirurgia do joelho em 2011, eu e
minha mãe decidimos que já era hora de retirar a colostomia. Como já não estava
mais de cama o tempo todo e já estava pegando prática em andar com as muletas,
então fomos conversar com o médico sobre uma possível retirada da colostomia. A
consulta aconteceu em janeiro/2012.
Eu não gosto de relatar essa parte da história, porque
foi um dos momentos mais sofridos que tive. Primeiro, que não gostei do médico.
Foi super mal-educado no dia da minha consulta, ele estava lá brigando com as
enfermeiras na recepção na frente dos pacientes, muito mal-humorado e outras
coisas que eu não quero nem saber. Eu nem me lembro o nome dele de tanto que eu
não gostei dele.
Primeiro vou explicar melhor para vocês o que é uma
colostomia, assim vão entender os procedimentos que tive que fazer antes da
cirurgia acontecer. Quando eu estava na UTI do hospital onde moro, o médico que
colocou a colostomia veio me visitar, eu perguntei a ele porque ele havia
colocado essa bolsa em mim, não tinha a mínima ideia do que ela significava e
ele me explicou que foi por causa da lesão do quadril e porque tive que fazer
cirurgia restauradora no ânus. Também perguntei se iria ficar com ela para
sempre e ele disse que não, que era apenas temporário, até eu poder conseguir
ir ao banheiro normalmente.
Com base em pesquisas no Google, colocarei aqui
para vocês a definição de colostomia:
“Colostomia é a porção do intestino exteriorizada
através da parede abdominal. A colostomia faz com que uma parte do intestino
fique exposta no abdômen, como uma boca (*estoma). Essa abertura será o local
por onde sairão às fezes que, por sua vez, serão armazenadas em uma bolsa
coletora.” *Estoma: É uma cobertura feita cirurgicamente no abdome,
por onde o conteúdo dos intestinos será expelido e coletado para uma bolsa
externa.
Essa foto abaixo mostra a bolsa coletora. Agora imaginem usar isso colado na sua barriga o tempo. Só podia ser retirado para trocar por outra.
Então, voltando ao médico mal-educado. Fiquei lá na
recepção sentada imaginando se aquele médico que estava sendo grosso com as
enfermeiras seria o médico que iria me atender, eu não sabia quem seria porque
era minha primeira consulta. Quando foi a minha vez de ser atendida, ele já
chegou todo afobado, me mandou deitar-se numa maca que ficava no consultório e
pediu para ver minha colostomia. Depois foi fazer o exame de toque retal - que
por sinal esse exame é horrível - e disse que eu tinha que fazer uma colonoscopia.
Pronto, acabou a consulta, foi embora e deixou as pobres das enfermeiras
marcando o exame para mim.
Me disseram o dia e o horário, e me passaram um
remédio que limpa todo o intestino para poder a câmera captar melhor as
imagens. Chegado o dia do exame, eu estava morrendo de medo. Me disseram que
ele ia colocar uma câmera no estoma e no meu ânus. Estava me sentindo fraca,
não tinha comido nada por conta do exame e tinha vomitado todo o remédio em
casa. Quando chegou a minha vez, fui para a maca, as mesmas enfermeiras que
marcaram o exame me colocaram um cateter para aplicar o remédio para dormir e
disseram que eu não ia sentir nada, na mesma hora falei:
— Graças
a Deus!
Fiquei muito aliviada. Esperamos ainda uns vinte
minutos para aquele médico chegar, quando ele chegou, injetaram o remédio e eu
dormi. Só que eu acordei, não sei quanto tempo depois. Quando voltei a si, vi
que o médico estava realizando o exame no estoma e doía uma pouco. Quando
sentia alguma dor ficava apertando a mão da enfermeira. Depois ele tirou a
câmera do estoma e foi para o meu reto, o exame de toque foi fichinha para o
que eu senti nesse exame. Eu gritava na sala pedindo para ele parar e ele
continuou fazendo o procedimento dizendo que já estava acabando e nunca
acabava.
Eu não sei quanto tempo demorou, mas foram os mais
eternos. Depois que finalmente acabou esse terrível exame, minha mãe entrou na
sala e ele conversou com ela dizendo que estava tudo bem com o intestino e
passou uma ultrassonografia retal, até disse o nome do hospital e a médica que
fazia o exame. Ligamos para esse hospital e não aceitava o plano de saúde que
eu tinha e o valor do exame era de R$ 300,00. Não queríamos pagar tendo plano
de saúde, achamos que fazendo em outra clínica não teria problema.
Fui fazer o exame numa clínica na capital que aceitava
o plano de saúde que eu tinha. Fiz a bendita ultrassom retal, não doeu muito,
mas incomodou. Minha mãe pegou o resultado e depois marcou a consulta com o
médico mal-educado. Eu não fui - quando era entrega de exames somente a minha
mãe que ia -. Quando minha mãe chegou em casa me disse que ele fez um escândalo
só porque o exame não foi feito no hospital que ele pediu e que ele disse que
só iria aceitar fazer a cirurgia se o exame fosse desse hospital.
Minha mãe me disse que quando saiu da sala encontrou
uma das enfermeiras e perguntou por que ele só queria o exame daquele hospital
e ela disse que a médica era a esposa dele e toda vez ele fazia isso com os
pacientes. Quando minha mãe disse tudo isso eu falei na mesma hora:
— Não
quero fazer a cirurgia com esse médico, eu não gostei dele, se ele fez isso
comigo nos exames, imagina na cirurgia. Deus me livre!!!
Eu nunca mais vi esse médico depois que eu fiz a colonoscopia.
*
* *
Como eu não quis fazer a cirurgia com esse médico,
resolvi ficar mais um tempo com a colostomia e resolver o problema do joelho.
Um dia quando estava na cozinha, eu senti uma coisa melada na minha calcinha e “corri”
para o banheiro. Quando eu vi fiquei assustada, eram fezes. Imaginei que como
estava com a colostomia, não podia defecar por baixo, tinha ouvido falar que
quando isso acontecesse, o estoma estava entrando no abdômen. Comecei a ficar
nervosa e preocupada.
Minha mãe marcou para outro médico que atendia nessa
mesma clínica do Dr. mal-humorado, mas graças a Deus não era no mesmo dia, eu
não queria nem olhar para cara dele. Quando foi minha vez de me consultar já
estava um pouco apreensiva, pensando que esse seria igual ao o outro, mas não
foi. Dr. Abílio é ótimo, adorei ele, disse que pelo tempo que eu estava com a
colostomia já estava na hora de tirar e passou outra colonoscopia - já fiquei
com medo -. Eu disse a ele o que aconteceu na colonoscopia anterior e ele me
disse que eu não iria sentir nada, ia ser como se eu fosse fazer uma cirurgia,
iria dormir.
Fiz todo o procedimento com os remédios que tive que
fazer para a primeira colonoscopia e no dia do exame eu realmente dormi, não
senti nada, nesse dia eu dormi até demais. Porque ele acabou o exame e eu
continuei dormindo por uns 10 minutos - segundo minha mãe -. Ele disse a minha
mãe que estava tudo certo com o intestino e que iria fazer minha cirurgia. Dr.
Abilio passou os exames que sempre faço antes de fazer qualquer cirurgia,
sangue e o cardíaco. Só com esses exames prontos e com tudo ok, ele
marcaria a cirurgia com a liberação do plano de saúde.
Enfim, minha décima segunda cirurgia foi realizada no dia 05 de novembro de 2012. Me internei na manhã do mesmo dia e às 9hs fui para o bloco cirúrgico, mas antes tinha tomado um remedinho azul e a enfermeira que me deu perguntou se eu estava com sono e eu disse que não. Fiquei conversando um tempão com os enfermeiros do bloco cirúrgico enquanto eles estavam tentando encontrar alguma veia para aplicar o cateter. Depois que encontraram e furaram meu braço, fiquei sentada continuando conversando com eles e depois de alguns minutos resolvi deitar e fechar os olhos. Só me lembro de estar no quarto no outro dia após a cirurgia com a barriga enfaixada e com uma sonda vesical - sonda de xixi -, minha mãe disse que eu abri os olhos quando cheguei da cirurgia, mas eu não conseguia me lembrar de nada. Passei todo o dia dormindo e vomitando, horrível para falar a verdade, só fiquei um pouco acordada no final da tarde quando a enfermeira veio fazer o curativo.
Como eu entrava na piscina mesmo com a colostomia,
ficou um pouco bronzeada na parte que ficou a bolsa coletora. Não lembro
quantos pontos tinham, mas tinha mais de 25. Depois do curativo feito, fui
dormir de novo.
No outro dia, eu já estava melhor, mas não podia comer.
Fiquei bebendo suco o dia todo, quando chegou a noite, eu não estava aguentando
de fome, perturbei o enfermeiro dizendo que não ia dormir porque estava com
muita fome, e ele conseguiu falar com Dr. Abílio que me deixou comer algo. Comi
frango com inhame, não comi muito porque meu estomago começou a doer e por
conta disso, acreditem, passei a noite toda acordada, não consegui dormir de
jeito nenhum.
Três dias após a cirurgia, pela manhã Dr. Abílio foi
me visitar e eu perguntei quando eu iria ter alta, ele disse que primeiro eu
tinha que defecar para saber se o intestino estava funcionando, perguntei:
— Como isso vai acontecer se eu só tomei suco o dia todo? — ele disse que eu tinha que comer naquele dia, então eu
disse que tinha comido inhame na noite anterior.
— Ah! Então você já está boa, pode ir embora. —
disse e sorriu.
— Sério?! — perguntei animada.
— Sim.
Antes de ir, ele disse para enfermeira retirar a sonda
e o soro. Receitou um remédio para dores e disse que queria me ver em oito
dias. Quando eu cheguei em casa era mais de meio-dia, almocei e fiquei com a
mesma dor no estomago, depois eu comecei a defecar normal, graças a Deus não
tive nenhuma complicação quanto a isso.
Por incrível que pareça essa foi a minha melhor
cirurgia em termos de recuperação, apesar da experiência horrível com o
primeiro médico que consultei. Eu conseguia sentar-se, andava devagar com as
muletas e tomava banho normal.
Após os oito dias, voltei para o consultório do Dr.
Abílio para ver como estava os pontos, alguns estavam sequinhos e outros mais
ou menos. Ele disse que estava ótima a minha cicatrização e que só ia tirar a
metade dos pontos. Aí aconteceu um problema: O enfermeiro que tirou os pontos
não era mal-humorado, mas parecia que estava ali por obrigação, sabe? Fazia as
coisas com má vontade, não gostei.
Minha mãe ficou dizendo a ele quais pontos estavam
melhores para tirar e ele não ouviu – minha mãe é técnica de enfermagem -, só quis
tirar o que ele queria, resultado, tirou pontos que não estavam cicatrizados e
quando eu cheguei em casa, fui tomar banho, começou a sair sangue no lugar que
ele retirou os pontos que não estavam cicatrizados, e com os dias, minha
barriga foi se abrindo e pensei: “Eu não acredito que esse enfermeiro fez
isso!”
Eu estava super furiosa com ele, depois de mais de
oito dias podia tirar o resto dos pontos, eu não fui para clínica, não queria
nem ver a cara daquele enfermeiro, quem tirou o resto dos pontos foi minha mãe
e não tive nenhum problema. As partes que abriram na minha barriga só vieram
fechar meses depois, tive que aplicar uma pomada que puxa a carne, para poder
cicatrizar mais rápido, foi um sufoco, pensei que nunca iria cicatrizar.
Hoje só ficou a cicatriz, uma das marcas da minha
vitória!