Quando
eu acordei, sabia que estava no hospital, mas não sabia qual dia ou hora eram e
nem o que tinha acontecido comigo.
Olhei ao redor e vi um grupo de enfermeiros que quando
me viram, vieram falar comigo. Perguntaram como eu estava, se eu estava sentido
dor e respondi a todos super tranquila.
Estava com uma touca verde, acesso venoso para receber
o soro e medicamentos, com um respirador no nariz e um lençol enorme me
cobrindo.
O enfermeiro perguntou se eu estava com fome e disse
que eu estava na UTI. Perguntei se poderia ver minha família e ele disse que no
horário de visitas sim.
Ele veio me alimentar e disse que o médico viria me
visitar. Após essa visita eu iria tomar banho no leito. Depois da janta,
descansei um pouco e fiquei olhando para o nada. Só via aparelhos, enfermeiros
sentados ou transitando pela ala, um paciente ao meu lado dormindo e pela porta
de vidro podia ver do lado de fora da UTI.
Chegou a hora do banho e finalmente poderia ver o que
tinha acontecido comigo. Enganada eu estava. Me puseram deitada de barriga para
cima e não pude ver como estava meu corpo, só conseguia ver uma parte do meu
abdômen e uma bolsa presa a ele. Me lembro de ter perguntado ao enfermeiro se
meu umbigo estava lá ainda, ele disse sorrindo que estava.
Estava terminando o “banho de gato” quando o
médico chegou. No caso um dos, porque tive dois que me operaram de imediato,
assim que cheguei. O médico perguntou como eu estava e começou a me examinar. Perguntei
se poderia tirar o respirador do nariz e ele disse que ainda não. Foi para o
final da cama e levantou minha perna esquerda, foi então que consegui ver dois
fixadores, um na minha coxa e um na minha “canela”, e não estava conseguindo
acreditar. Senti uma dor enorme porque ele levantou minha perna para eu poder
ver na posição que eu estava. Também tinha um fixador no quadril e uma
colostomia. Perguntei ao médico por quanto tempo ficaria com tudo isso, ele
disse que no mínimo três meses. Bem, eu acreditei. E por último, ele resolveu
colocar na hora uma sonda direto no pulmão - que por sinal doeu bastante - e
depois ele foi embora.
No outro dia comecei a receber visitas, como estava na
UTI, foram visitas curtas porque tinha muita gente que queria me ver, além da
minha família. Quando minha mãe apareceu, resumiu um pouco o que tinha
acontecido: Eu tinha ficado mais de quatro horas na sala de cirurgia, que eu
tinha perdido muito sangue e que muitas pessoas tinham ido doar. Porém ela não
me disse mais detalhes sobre minhas fraturas.
Perguntei a ela do rapaz que estava comigo e ela disse
que ele estava no hospital público esperando para fazer uma cirurgia, a única
coisa que ele quebrou foi o cotovelo esquerdo, depois de três dias ele foi para
um hospital particular e fez a cirurgia. Colocaram uma placa de titânio no cotovelo
e por conta disso ele não estica o braço todo, também ficou alguns dias com a
parte inferior da perna na carne viva. Com o tempo ele se recuperou e voltou a
sua vida normal, ao contrário de mim que estava só no começo de uma grande
batalha.
O segundo médico apareceu e foi quando pude saber
realmente o que tinha acontecido comigo. Tive fraturas na perna esquerda e nada
tinha acontecido na perna direita, eu a mexia normalmente, estava tudo bem na
cabeça, braços, mãos, coluna, graças a Deus. No entanto, da cintura para baixo
foi bastante grave, aconteceu o seguinte: Fratura no quadril em dois lugares
(no meio e um pouco acima do fêmur esquerdo), fratura exposta do fêmur (esse
foi o osso que minha amiga viu, rasgou até a minha calça) fratura no joelho
esquerdo, fratura exposta da tíbia esquerda e não sentia o pé esquerdo.
O médico disse que por pouco o carro não levou a minha
perna junto, e por conta disso o quadril se partiu ao meio, então eu tive
outras lesões na região de baixo (vulva, vagina, ânus). Fizeram uma cirurgia de
reconstrução e por dentro encontraram areia, graveto e folhas. Estava correndo
risco de ter uma infecção. Minha bexiga estava tão inchada que pensaram que eu
tinha perdido o útero e os ovários na hora. No abdômen, aquela bolsa que eu vi,
era uma colostomia.
Os médicos informaram aos meus pais que se eu passasse
de 24 horas eu ficaria bem, nesse período eu poderia perder a perna, poderia
rejeitar os fixadores e eles teriam que amputar ou então pegar uma infecção e
falecer. Mas graças a Deus consegui me livrar desse período e não perdi a perna
e não peguei nenhuma infecção. Numa outra visita da minha mãe, ela me contou
que estava resolvendo as coisas para eu ser transferida para um outro hospital
particular na capital, os próprios médicos que aconselharam, porque lá teríamos
mais recurso.
Eu fiquei três dias internada na UTI desse hospital na
cidade em que eu moro e nesse período, já havia feito duas cirurgias.
* Quero agradecer a todos que me doaram sangue. Deus os abençoem.
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