FORÇA AMANDA, VOCÊ VAI CONSEGUIR
Um
dia após a minha segunda cirurgia, fui transferida para um hospital da capital.
O percurso não foi nada fácil, buracos e mais buracos.
Em consequência disso, me balançava e eu sentia muitas dores. Foram quase duas
horas. Chegando lá, novamente me colocaram na UTI e como já esperado, médicos e
enfermeiros vieram me ver e saber o que tinha acontecido. E como sempre, ouvi
as perguntas que já estavam memorizadas na minha cabeça:
— Foi
moto?
— Como foi?
Fisicamente, eu não me encontrava numa situação nada
boa, eu estava com fixador no quadril, fêmur e tíbia. Uma sonda no pulmão, uma
sonda vesical (sonda para urinar), uma cistostomia (sonda que vai direto na
bexiga) e uma colostomia.
Vou resumir, mais ou menos, para quem não sabe, o que é
uma colostomia: uma parte do intestino grosso é desviado para fora da
barriga e é por lá que sai as fezes. Para não se sujar, coloca-se uma bolsinha
descartável que ao mesmo tempo protege o estoma.
Não vou me estender muito, pois terá um capítulo falando
somente sobre essa parte com uma explicação mais detalhada.
A única coisa que estava me incomodando era só ter que
ficar numa só posição, ou seja, deitada de barriga para cima. Eu era acostumada
a só dormir de lado e naquele momento, eu tinha que ficar deitada o tempo todo
e não podia se sentar por conta do quadril quebrado.
Por enquanto, eu estava levando tudo numa boa, parecia
que a ficha não tinha caído. Era ruim ficar na UTI porque você fica sozinha,
parece que as horas não passam. Ficava assistindo televisão e sentia muita sede.
Não tinha vontade de comer e o médico disse que se eu não comesse, iria me
colocar uma sonda. Como eu não queria aquela sonda dentro de mim, comecei a
comer aos poucos.
Uma parte engraçada que aconteceu na UTI foi quando os
enfermeiros vieram me dar banho, eles me olharam de um jeito ao mesmo tempo se
perguntando: “Como vamos dar banho nela?”. E eu em risos disse o método
que os enfermeiros usaram no meu primeiro banho. Tinha toda uma técnica que era
para eu não sentir mais dor, mais do que já estava sentindo e graças a Deus deu
tudo certo.
Depois de dois dias o médico me disse que eu sairia da
UTI e iria ser transferida para um quarto. Nossa! Fiquei tão feliz. Enfim, não
ficaria mais sozinha com desconhecidos.
Fui levada para o novo quarto e minha mãe já estava
lá, eu me senti bastante aliviada por tê-la de novo por perto. Comecei a
receber visitas mais demoradas dos parentes e amigos.
Quando estava assistindo televisão, do nada, vi minha
mãe colocar na porta do armário uma foto minha com minha irmã, naquele momento não
achei nada demais e deixei para lá. O quarto que eu fiquei não tinha janela, eu
não sabia se era dia ou noite, só pelas horas e tinha que ficar no
ar-condicionado o tempo todo. Só era desligado na hora que eu ia tomar banho.
Depois de algumas semanas, minha mãe estava conversando com uma pessoa que tinha
ido me visitar e eu estava assistindo televisão, então eu comecei a olhar a
foto que estava eu e minha irmã e comecei a me lembrar da minha vida antes do
acidente, as coisas que eu fazia com ela e tal... E eu não aguentei aquela
enxurrada de pensamentos e sentimentos e comecei a chorar dizendo que queria ir
embora do hospital. Acho que foi nesse momento que minha ficha começou a cair,
eu não estava mais aguentando ficar ali.
Uma psicóloga foi conversar comigo e ela me receitou
um remédio para poder dormir à noite, mas eu não cheguei a entrar em depressão.
Meu estado de humor era por dia, tinha dia que eu estava bem e tinha dia que eu
ficava mal-humorada com todos e às vezes até chorava.
Na maioria do tempo eu era obrigada a dormir, por
conta de um remédio de dor que é muito forte chamado Tramal, ele me
causava sonolência - por uma parte era bom, assim as horas passavam mais rápido
- e me dava muita vontade de vomitar, e enquanto eu vomitava, pensava ao mesmo
tempo:
“Força Amanda, você vai conseguir.”
Era muito difícil. Nem os remédios para parar de
vomitar faziam efeito. Eu odiava ter que acordar e olhar para aquele quarto
todo fechado, escuro... Só queria dormir.
Retomei as sessões de fisioterapia que já fazia na UTI
e comecei a tomar todos os dias uma injeção na barriga para não ter trombose.
Aos poucos a rotina ia se ajustando.